Vamos agora elucidar sobre essa questão
delicada e necessária, pois o leigo fica confuso com tantos tipos de
rituais, liturgias e doutrinas, todas usando a denominação “Umbanda”.
Para quem não conhece a fundo, isso torna-se estranho e acabam por
dizerem: Você pratica a Umbanda Branca? Você pratica Quimbanda? No seu
terreiro tem despacho? No seu terreiro tem tambor? Então, para dirimir
essas dúvidas, vamos sucintamente esclarecer os vários “tipos” de
Umbanda (ramificações) existentes em solo brasileiro, para que cada um
possa agora entender e respeitar as práticas das mais variadas umbandas
existentes.Desde a sua iniciação, a Umbanda tem sofrido modificações em
seu modo de ser e operar. Dessas modificações, cada um deu uma roupagem e
nomenclatura própria para se situarem perante a comunidade. Cremos que
tudo isso não se deu pelo simples fato de cada um querer impor a sua
verdade, mas simplesmente estavam realizando aquilo que suas mentes
achavam estar correto. Cada um, com certeza deu tudo de si, para o que
estava fazendo frutificasse, e no fim, todos estavam envidando esforços
para praticarem o que entendiam como religião de Umbanda. Hoje temos
várias ramificações da Umbanda que guardam raízes muito fortes das bases
iniciais, e algumas que absorveram características de outras religiões,
mas que mantém a mesma essência nos objetivos de prestar a caridade,
com humildade, respeito e fé. Alguns exemplos dessas ramificações
são:Antes de Zélio de Morais, o que existia era conhecido como “Macumba
dos morros cariocas”; onde podemos encontrar uma forte influência de
práticas do Catimbó, bem como da magia africana praticada por alguns,
pois o Candomblé estruturado surgiu no Rio de Janeiro somente na década
de 1930. Ainda não se conhecia a termo “Umbanda”. João do Rio, em sua
obra “Religiões do Rio” de 1904, não citou em nenhum momento o nome
Umbanda.• Umbanda Tradicional – Oriunda do Caboclo das Sete
Encruzilhadas manifestado no médium Zélio Fernandino de Moraes que
lançou as bases da Religião de Umbanda, com doutrina baseada na caridade
cristã sem fins pecuniários e na doutrina dos Evangelhos. Não tinha
sujeição a Orixás. Todas as outras ramificações guardam vínculos com a
Umbanda Tradicional. A Umbanda Cristã é que guarda o vínculo mais forte
com a Umbanda Tradicional.• Umbanda de Mesa ou Umbanda Branca (ou de
Linha Branca) ou Umbanda de Cáritas (“Cárita” – (latim): Caridade. Como
Cáritas está no plural: caridades. “Cárites” – (grego): Graça) – De
expressiva influência da chamada “doutrina Kardecista” ou seja, do
espiritismo codificado por Allan Kardec. Nesse tipo de Umbanda, em
grande parte, não encontramos elementos africanos (Orixás), nem o
trabalho dos Guardiões, ou a utilização de elementos como atabaques,
fumo, imagens e bebidas. Essa linha doutrinaria se prende mais ao
trabalho de Guias como Caboclos, Pretos Velhos e Crianças.• Umbanda
Omolokô (também conhecida de Umbanda de Almas e Angola) – Iniciada pelo
Tatá Trancredo da Silva, onde encontramos um misto entre os cultos
africanos e o trabalho direcionado dos Guias Espirituais, sendo mais
comum aos estados da região sul do Brasil. Faz uso de camarinhas, ebós,
raspagens e catulagem.• Umbanda Traçada, Mista, Cruzada ou Umbandomblé –
Onde existe uma diferenciação entre Umbanda e Candomblé, mas o mesmo
sacerdote ora vira para a Umbanda, ora vira para o Candomblé em sessões
diferenciadas. Não é feito tudo ao mesmo tempo. As sessões são feitas em
dias e horários diferentes.• Umbanda Esotérica – É diferenciada entre
alguns segmentos oriundos de Oliveira Magno, Emanuel Zespo e o Wilson
Woodron da Matta (Mestre Yapacany), em que intitulam a Umbanda como a
Aumbhandan: “Conjunto de Leis Divinas”. Apregoam que a Umbanda é
milenar, e possuem um código doutrinário próprio, com rituais, liturgias
e sacramentos particulares.• Umbanda Iniciática – É derivada da Umbanda
Esotérica e foi fundamentada por Francisco Rivas Neto (Mestre
Yamunisiddha Arhapiagha), onde há a busca de uma convergência
doutrinária (sete ritos), e o alcance do Aumbhandan, o Ponto de
Convergência e Síntese. Também possuem um código doutrinário próprio,
com rituais, liturgias e sacramentos particulares.• Umbanda Sagrada –
Iniciada por Rubens Saraceni. É calcada em doutrina própria, dando
ênfase a práticas de magias.• Umbanda de Caboclo – Influência da cultura
indígena brasileira com seu foco principal nos Guias Espirituais
conhecidos como "Caboclos".• Umbanda de Pretos Velhos – Influência da
cultura Africana, onde podemos encontrar elementos sincréticos, o culto
aos Orixás, e onde o comando e feito pelos Pretos-Velhos.• Umbanda
Popular – Tem forte influência do Candomblé do Catimbó, do sincretismo e
suas práticas. Faz uso indiscriminado de oferendas, despachos, bebidas
alcoólicas. Sem cunho e estudo doutrinário próprio. Largo uso de
roupagens coloridas, atabaques, adereços, danças e festas (internas e
externas).• Umbandaime – Mesmas características da Umbanda Popular, com
grande influência das práticas do Santo Daime.• Umbanda Racional –
Iniciada por Ângelo Gomes de Oliveira, que procurou esclarecer a
doutrina e liturgia umbandistas. Tem influência da Umbanda popular e
esotérica.Deixamos em separado um último segmento (Umbanda Cristã), pois
é o seguido pela nossa casa, o “Templo da Estrela Azul – Casa de Oração
e Escola Cristã Umbandista – fundado em 1937”.Muitos poderão se sentir
incomodados por nos pautarmos tanto no Evangelho de Jesus, procurando
seguir fielmente Seus ensinamentos, bem como também, aceitarmos práticas
cristãs em nossa liturgia. Com isso não estamos desmerecendo ou mesmo
criticando ninguém e nem seu Culto, mas achamos por bem esclarecer, para
que todos possam se situar, e assim poder claramente entender o que é a
Umbanda Cristã.Só podemos dizer que os Guias Espirituais militantes em
todas as denominações umbandistas, lá estão por afinidade, e realizam um
trabalho caritativo dentro da realidade deles (rituais, oferendas,
etc.) em conjunto com a mente e a aceitação dos profitentes.A Umbanda
Cristã guarda um vínculo muito forte e íntimo com a doutrina da Umbanda
preconizada pelo Sr Caboclo das Sete EncruzilhadasSão palavras textuais
de Zélio Fernandino de Moraes:• O Caboclo das Sete Encruzilhadas nunca
determinou o sacrifício de aves e animais, quer para homenagear
entidades, quer para fortificar a minha mediunidade.• O Caboclo das Sete
Encruzilhadas não admitia atabaques e nem mesmo palmas nas sessões.
Apenas os cânticos, muito firmes e ritmados, para a incorporação dos
Guias e a manutenção da corrente vibratória.• Capacetes, espadas,
adornos, vestimentas de cores, rendas e lamês não são aceitos nos
Templos que seguem a sua orientação. O uniforme é branco, de tecido
simples.• As guias usadas são apenas as que determinam a entidade que se
manifesta. Não é a quantidade de guias o que dá força ao médium.• Os
banhos de ervas, os amacis, as concentrações nos ambientes da Natureza, a
par do ensinamento doutrinário, na base do Evangelho, constituem os
principais elementos de preparação do médium. E são severos os testes
que levam a considerar o médium apto a cumprir a sua missão
mediúnica.Aqui, daremos somente uma breve pincelada do que seria a
Umbanda Cristã; em outra obra, esmiuçaremos pormenorizadamente sua base
doutrinária.Base doutrinária da Umbanda Cristã:• Umbanda praticada sem
atabaques (embora algumas casas umbandistas cristãs ainda fazem uso de
atabaques, por influência da Umbanda popular), sem roupagens coloridas
ou qualquer tipo de adereços externos (cocares, chapéus, coroas, fitas,
arcos, tacapes, tridentes, etc.• Abomina a matança de animais.• Toda
calcada no Evangelho de Jesus Cristo, Reforma Íntima, Descarregos
(desobsessão) e na prática caritativa sem fins pecuniários.• Os pontos
cantados, em sua maioria, são entoados em forma de hinos, de viva voz.
Os pontos cantados de raiz, pontos de força ou pontos de poder são
efetuados com acompanhamento de maracás. Os pontos de louvação, Cultos,
perdão, amor, etc., são efetuados através de arranjos musicais.• Aceita
os Sagrados Orixás, não como deuses, mas sim como denominações humanas
para os Poderes Reinantes do Divino Criador, a própria Natureza em si.•
Atua com as linhas de trabalho com: Caboclos, Pretos Velhos, Crianças,
Baianos, Boiadeiros, Marinheiros, Ciganos, Linha do Oriente e Guardiões;
e com as Correntes de manifestação com: Sereias, Caboclos
Quimbandeiros, dos Semiromba, das Sakáangá e das Yaras Mirins.•
Restringe o uso indiscriminado de oferendas e despachos.• Faz largo uso
de orações, rezas, defumações, cachimbos, amacis e banhos em sua
liturgia.• Promove concentrações nos sítios vibratórios da Natureza,
para captação de energias sublimes.• Dá ênfase ao estudo e
desenvolvimento doutrinário.Obs.: Linhas de trabalho são as que se
manifestam mediunicamente, trabalhando em atendimentos particulares.
Correntes de manifestação são as que não procedem a atendimentos
particulares.Existem muitas outras formas de vivenciar a Umbanda e todas
se forem vivenciadas do amor, com amor e por amor serão legítimas.
Muitas outras formas existem, mas não têm uma denominação apropriada. Se
diferenciam das outras formas de Umbanda por diversos aspectos
peculiares, mas que ainda não foram classificadas com um adjetivo
apropriado para ser colocado depois da palavra Umbanda.Por isso, é
infrutífero e estéril qualquer tipo de discussão sobre quem pratica a
“verdadeira Umbanda”. É bom cada um se situar na ramificação seguida, e
procurar fazer o melhor possível, pois a Espiritualidade Maior não
acoberta erros. Veja, estude e pratique a que a sua ramificação ensina,
mas, não critique o que a outra aceita como doutrina, liturgia ou
rituais. Nós praticamos e ensinamos a Umbanda Cristã.
domingo, 20 de junho de 2010
RAMIFICAÇÕES DA UMBANDA/UMBANDA CRISTÃ
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