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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

PRETO VELHO FALA COM KARDEC




Pouca gente sabe, mas numa das reuniões realizadas na Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas, Allan Kardec evocou um Espírito que,
segundo as terminologias da cultura brasileira,
poderia ser classificado como um “preto velho”. Esse encontro, narrado
pelo próprio Kardec nas páginas da sua histórica “Revista
Espírita” (Revue Spirite), de junho de 1859, aconteceu na reunião do
dia 25 de março daquele mesmo ano. Pai César – este o nome do Espírito
comunicante – havia desencarnado em 8 de fevereiro também de 1859 com
138 anos de idade – segundo davam conta as notícias da época –, fato
este que certamente chamou a atenção do Codificador, que logo se
interessou em obter, da Espiritualidade, mais informações sobre o
falecido, que havia encerrado a sua existência física perto de
Covington, nos Estados Unidos.
Pai César havia nascido na África e tinha sido levado para a Louisiana
quando tinha apenas 15 anos.
Antes de iniciar a sessão em que se faria presente Pai César, Allan
Kardec indagou ao Espírito São Luís, que coordenava o trabalho, se
haveria algum impedimento em evocar aquele companheiro recém-chegado
ao Plano Espiritual. Ao que respondeu São Luís que não, prontificando-
se, inclusive, a prestar auxílio no intercâmbio. E assim se fez. A
comunicação, contudo, mal iniciada, já conclamou os participantes do
grupo a muitas reflexões. Na sua mensagem, Pai César desabafou,
expondo a todos as mágoas guardadas em seu coração, fruto
dos sofrimentos por que passara na Terra em função do preconceito que
naqueles dias graçava em ainda maior escala do que hoje. E tamanhas
eram as feridas que trazia no peito que chegou a dizer a Kardec que
não gostaria de voltar à Terra novamente como negro, estaria assim, no
seu
entendimento, fugindo da maldade, fruto da ignorância humana. Quando
indagado também sobre sua idade, se tinha vivido mesmo 138 anos, Pai
César disse não ter certeza, fato compreensível, como esclarece o
Codificador, visto que os negros não possuíam naqueles tempos registro
civil de
nascimento, sobretudo os oriundos da África, pelo que só poderiam ter
uma noção aproximada da sua idade real.
A comunicação de Pai César certamente ajudou Kardec, em muito, a
reforçar as suas teses contra o preconceito, o mesmo preconceito que o
levou a fazer, dois anos depois, nas páginas da mesma “Revista
Espírita”, em outubro de 1861, a declaração a seguir, na qual deixou
patente
o papel que o Espiritismo teria no processo evolutivo da Humanidade,
ajudando a pôr fim na escuridão que ainda subjuga mentes e corações:
“O Espiritismo, restituindo ao espírito o seu verdadeiro papel na
criação, constatando a superioridade da inteligência sobre a matéria,
apaga naturalmente todas as distinções estabelecidas entre os homens
segundo as vantagens corpóreas
e mundanas, sobre as quais só o orgulho fundou as castas e os
estúpidos preconceitos de cor.”

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